Primeiro dia de Pêssach, Tav-Shin-Gimel, 20 de Abril, 1943,
Jerusalém
“Foge meu amado, até que o amor do nosso matrimónio queira."
Sobre fugir, que o Criador nos aparece numa conduta de fugir, isso é em prol de divulgar o amor. Mas por que precisamos primeiro de fugir? Isso é porque da perspectiva da criação, tudo já foi completado, ou seja que o amor já foi preparado para todos em toda sua totalidade. Contudo, ele deve ser revelado entre os seres criados e ele não pode ser revelado sem se vestir na luz da misericórdia, pois a luz da misericórdia qualifica os seres criados para serem capazes de receber a luz do amor.
A questão é que a luz do amor se pode vestir somente na eternidade. Assim, quando a pessoa não se sente eterna, ela não pode receber a luz do amor. Inversamente, quando ela recebe a luz da misericórdia primeiro, ela está certa que "ele não regressará à folia." Naturalmente, o presente e o futuro são o mesmo para ela.
Sucede-se que para ela, todos os setenta anos estão em uma forma, ou seja a forma da autoridade singular e setenta anos e seis mil anos, que são o todo da criação, todos são um, que é considerado um grau completo. (Isto é como está escrito, que quando a pessoa anula seu próprio desejo e não tem desejo para si mesma, mas em vez disso pelo colectivo, ela é como um elo de uma corrente e o elo tem o nome da corrente enquanto que o elo em si não tem nome próprio.)
Sucede-se que ele recebe o nome segundo a criação geral, que é considerada eternidade. Assim, quando ele recebe a luz da misericórdia, ele fica ajustado a receber o amor. Este é o sentido das palavras, "O amor do nosso matrimónio," que é uma qualidade geral e não uma parcial, tal como foi dito sobre Moisés, "Eis, Eu passarei toda minha abundância," ou seja uma forma geral.
Receber a luz da misericórdia requer um despertar de baixo, ou seja pedir misericórdia. Então, quando a luz é revelada através da oração, isso é chamado "luz da misericórdia."
Como pode a pessoa pedir misericórdia que seja na conduta de, "Minha alma anseia pela Tua salvação," ou seja que ele precisa desesperadamente de salvação? Assim, o Criador nos é revelado numa conduta de "fugir" e quando o Criador nos parece fugir, ou seja Providência invertida, nessa altura há espaço para revelar a verdadeira oração e para propagar a luz da misericórdia para a eternidade.
Esse é o sentido de "Foge meu amado," para que seja "até que ele queira." Embora da perspectiva do Criador, o amor seja completo, este amor não é sentido pelos inferiores, que não desejam este amor senão recebendo a luz da misericórdia. Então as acções são adequadas para também quererem a luz do amor.
Este é o sentido de "até que ele queira." ou seja que há um desejo. Isto assim é porque pode haver misericórdia em uma pessoa, enquanto que o amor é relativo especificamente a duas. Assim, primeiro atraímos a luz da misericórdia, que é especificamente correndo que nos tornando adequados para receber a luz da misericórdia. Através da luz da misericórdia, nos tornamos adequados para receber a luz do amor.
Este é o sentido de "Tu nos amaste com grande amor." Assim, quando isto é revelado nos inferiores, então "Grande e transbordante compaixão Tu tiveste por nós," que é a capacidade de receber a luz da misericórdia que foi preparada para nós, com isto seremos capazes de receber o amor.
Oração é eternidade, pois a Shechiná [Divindade] é chamada "oração." Portanto, quando a pessoa ora para si mesma, isso não é eternidade porque enquanto ela ora e tem algum contacto com o Criador, ela nada tem pelo qual orar e aquilo que ela faz propagar é chamado "servidão" e não "oração."
Há oração somente quando há um lugar para evocar misericórdia, que é como uma pessoa doente terminal. Mas se ela teve algum contacto com o Criador, ela não está mais terminalmente doente e já não pode mais orar. Sucede-se que sua oração não é eternidade.
Portanto, o Criador preparou para nós um mundo inteiro, como disseram nossos sábios, "A pessoa deve dizer, 'O mundo foi criado para mim'" (Sanhedrin 37a), ou seja que ela deve orar pelo mundo inteiro. Portanto, quando ela vem para orar e tem contacto com o Criador, embora ela mesma não esteja doente no momento, ela pode orar pelos seus contemporâneos, ou seja propagar misericórdias para que ninguém na sua geração careça de abundância.
É uma grande regra que a pessoa em si é chamada "uma criatura," ou seja somente ela sozinha. Além dela isso é já considerado a sagrada Shechiná. Sucede-se que quando ela ora pelos seus contemporâneos, isso é considerado que ela ora pela sagrada Shechiná, que está no exílio e precisa de todas as salvações. Este é o sentido da eternidade e precisamente desta maneira, a luz da misericórdia pode ser revelada.
Outra razão pela qual devemos orar somente pelo público geral é a necessidade de divulgar a luz da misericórdia, que é a luz da doação. É uma regra que é impossível receber coisa alguma sem equivalência. Em vez disso, sempre deve haver equivalência.
Assim, quando ela evoca misericórdia sobre si mesma, sucede-se que ela se engajou em recepção para si mesma. E quanto mais ela ora, não só ela não prepara o Kli [vaso] de equivalência, mas pelo contrário, centelhas de recepção dentro dela se formam.
Sucede-se que ela vai na direcção oposta. Enquanto ela devia preparar os vasos de doação, ela está a preparar vasos de recepção. "Apega-te aos Seus atributos" é especificamente "Tal como Ele é misericordioso, também tu sê misericordioso."
Assim, quando ela ora pelo público, através da sua oração ela se engaja na doação. E quanto mais ela ora, a essa medida ela forma vasos de doação, pelos quais a luz da doação, chamada "misericordioso," pode ser revelada.
Ao receber a luz da misericórdia, há uma capacidade para mais tarde revelar a qualidade de "gracioso." Este é o sentido de "Concede-nos o tesouro do presente gratuito," pois graciosidade é amor, pois a graciosidade é sem rima ou razão e também é o amor.
E "gratuito" significa doação, que Ele é misericordioso. Ou seja, recebendo a luz da misericórdia, ele se torna adequado para receber a luz do amor, que é o sentido de "até que ele queira." Nessa altura, o desejo aparece nos inferiores, também.