A História Não Contada De: Uma Nação Consumidora
Traduzido de: Kaballah Today Issue #14
Coisas. Elas enchem os nossos armários, as nossas garagens e as nossas vidas. Nós avaliamos o sucesso na vida pelas coisas que possuímos e gastamos imenso tempo a fazer compras por elas. Um novo documentário, “A História das Coisas”, mostra como toda a nossa vida tem sido tomada por “coisas”. E a sabedoria da Cabala mostra o que podemos fazer sobre isso.
Annie Leonard, uma especialista internacional em sustentabilidade e saúde ambiental, passou dez anos na pista de “coisas” desde o seu início como matérias-prima até ao fim em que acaba no lixo. O seu documentário “The Story of Stuff” (www.storyofstuff.com), é tão divertido quanto é educacional, e foi visto por mais de dois milhões de pessoas.
Annie coloca o problema de forma muito simples: "Nós tornámo-nos uma nação de consumidores. A nossa identidade primária tornou-se em sermos consumidores. Não em sermos mães, professores, agricultores, mas sim consumidores. Mas a sua preocupação mais profunda é que a consumo-mania nos EUA destrói o nosso equilíbrio com a natureza e arruína a vida das pessoas. E tudo isto acontece longe do olhar do público. Aqui estão alguns dos factos que ela descobriu:
- Só nas últimas três décadas, um terço dos recursos naturais do planeta foi consumido.
- 75% da pesca mundial é pescada para além da capacidade. 85% das florestas originais do planeta já se foram.
- Os EUA têm apenas 5% da população do mundo, mas usa 30% dos recursos do planeta e gera 30% do lixo do mundo. Se todo o mundo consumisse como os EUA precisaríamos de 3-5 planetas.
- A industria dos EUA liberta mais de quatro biliões de quilos de produtos químicos tóxicos, por ano. Mais de 100.000 substâncias químicas sintéticas são hoje usadas no comércio.
- Concentração nos nossos corpos de produtos químicos tóxicos encontrados nos produtos que usamos. Na verdade, o leite materno está no topo da cadeia alimentar, como tendo o maior nível de contaminantes tóxicos.
- Nos EUA cada pessoa produz 4.5 quilos de lixo por dia, o dobro de há 30 anos.
- Mesmo que conseguíssemos reciclar 100% dos resíduos, não iria causar qualquer arranhão no problema, pois por cada caixote de lixo que se recicla, o equivalente a outros 70 caixotes são entretanto produzidos.
Mas há mais para a história. Annie revela que "Não aconteceu por acaso, tudo foi projectado."
Porque é que fazer compras se tornou um passatempo nacional
Talvez o facto mais chocante revelado pela extensa pesquisa de Annie é que a nossa sociedade "descartável" foi cuidadosamente orquestrada pelo governo dos Estados Unidos, a fim de revitalizar a economia após a Segunda Guerra Mundial. Nessa altura, o analista Victor Lebow propôs um plano ambicioso: “A nossa enorme economia produtiva exige que façamos do consumo o nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de bens em rituais, que busquemos a nossa satisfação espiritual e a satisfação do nosso ego ao consumo. Precisamos de coisas consumidas, queimadas, substituídas e descartadas a um ritmo acelerado”.
E foi assim que a bola de consumismo começou a rolar. Nos EUA, todos são inundados com mais de 3.000 anúncios por dia, dizendo-lhes para comprarem mais “coisas”. As empresas desenham os seus produtos para se tornarem obsoletos o mais rapidamente possível. As prateleiras são constantemente cheias com produtos descartáveis para nossa conveniência. O resultado?
“Nós compramos e compramos e compramos para manter o fluxo de materiais! E como eles fluem”, nas simples palavras de Annie. As nossas vidas estão sendo reduzidas ao trabalho, fazer compras, para em seguida trabalhar de novo para pagar as coisas que acabou de comprar. E com tal circulo vicioso, não é nenhuma surpresa que as pesquisas mostrem que a felicidade nacional está em declínio.
Esta é realmente a forma como queremos viver as nossas vidas e a nossa economia? Será que temos realmente de subjugar as nossas vidas a um sistema que arruína a vida das pessoas, destrói o meio ambiente, deixa-nos completamente fora de equilíbrio com a natureza e, ao fim do dia – faz-nos realmente felizes?
A Cabala explica “A vontade de Consumir”
“The Story of Stuff” conclui falando sobre uma variedade de estratégias “verdes” para melhorar a situação. No entanto, Annie também percebe que "As coisas estão realmente a começar a se moverem quando vemos as ligações, quando olhamos para o retrato real”.
Acontece que, ver estas “ligações” é o que a sabedoria da Cabala é. Explica que temos de investigar o que está por detrás e revelar a força motriz que motiva a nossa "vontade de consumir" e os sistemas que a alimentam, que é senão a nossa própria natureza - o egoísmo humano.
É por isso que adoptámos tão rapidamente a estratégia consumista de Lebow - encaixou em perfeição na nossa natureza egoísta! No entanto, o que ele não teve em conta foi que um dia iríamos começar a perceber o nosso verdadeiro propósito espiritual. E esperar que o consumismo desse "satisfação espiritual" mostra como ele não tinha nenhuma ideia sobre o verdadeiro significado deste termo.
Do ponto de vista da Cabala (ou qualquer outro ponto de vista), é claro como agua, que os bens de consumo nunca nos vão trazer satisfação espiritual, ou por outras palavras, a verdadeira e permanente felicidade. Satisfação espiritual só pode ser alcançada através da harmonização com a qualidade subjacente da natureza, o amor completo e do dar.
Mas, uma vez que esta qualidade está oculta de nós, o que nós sentimos é apenas a nossa falta de equilíbrio com ela, reflectida em todos os problemas que vemos ao nosso redor, mesmo entre nós ou entre nós e a natureza. Os Cabalistas dizem que estar equilibrado com a qualidade da natureza do dar é o único caminho para sermos verdadeiramente felizes. Além disso, adquirir esta qualidade dar-nos-á uma percepção completamente nova e iremos experimentar a vida a um nível completamente diferente.
Mas, para isso, há uma coisa que temos de mudar primeiro - a nossa natureza egoísta.
A mudança começa de dentro
A Cabala explica que a forma como fugimos das nossas vidas e a maneira como gerimos todo o planeta, é o resultado directo da nossa própria natureza. Portanto, se queremos mudar alguma coisa no exterior, temos de nos libertar das garras do ego sobre as nossas escolhas e valores. E a Cabala fornece-nos a maneira de fazermos exactamente isso.
O nosso propósito é muito mais elevado do que ser escravos do nosso próprio sistema de consumo. Também não se resume apenas a uma forma de vida “verde” ou a uma melhor utilização dos recursos. O Cabalista Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) escreve que “O propósito de toda a criação é adesão ao Criador pela equivalência da forma”. ( "A Liberdade")
Em simples Português, isto significa que o propósito do homem é equilibrar-se internamente com a natureza, para equilibrar o seu egoísmo inerente com o altruísmo inerente da natureza e, assim, sentir a realidade a um nível perfeito e eterno.
Assim que conseguirmos a nossa transformação interna, a visão de Annie de uma “economia mais verde e unificada” também se vai tornar realidade. Ao atingir a qualidade da natureza do dar, as pessoas vão se transformar e, portanto, vamos naturalmente transformar também os nossos sistemas terrestres. Mas a mudança, diz a Cabala, só pode começar a partir de dentro.
“Enquanto não elevarmos o nosso objectivo acima da vida corporal, não teremos renascimento corporal, porque o nosso espiritual e corporal não podem viver na mesma cesta”
Cabalista Yehuda Ashlag (Baal HaSulam)
“Exile and Redemption”
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