Fazendo a Paz Entre o Ódio e o Amor
A qualidade em que estamos embebidos permite-nos perceber apenas o que entra em nós, e devemos fazer esforços para desenvolver em nós uma nova qualidade, um sentido de percepção através do dar, para começar a sentir o que é encontrado em alguém que aparece aos meus olhos como externo a mim.
Devo conectar-me aos sentidos dos outros e aceitá-los como se fossem meus, assim eu expando o meu Kli (recipiente). Imagine você: Eu anexo os meus cinco sentidos, ao cérebro, aos sentimentos e a tudo o que tenho, e a tudo o que você tem, e olho para tudo através de mim e de você. Agora imagine que você se anexa a todas as pessoas do mundo desta maneira. E não é que eu ao conectá-los a mim mesmo me torno maior na minha percepção interior, mas antes, apesar de eu me juntar a eles, eles permanecem externos a mim.
E depois, através da percepção das coisas externas a mim, como se fossem minhas, eu adquiro “Aviut” (espessura), (por você ser ainda um desconhecido para mim), e "Zakut" (pureza), (por você se tornar como eu). Há um ganho duplo aqui. Então a minha percepção é chamada de “percepção espiritual”. Temos de pensar nestas coisas de uma forma mais suave.
Quando eu opero desta maneira, eu adquiro um sentido que é mais exaltado do que o meu sentido actual. Eu entro no outro e olho através dele, mas esse outro permanece um desconhecido para mim, porque nós não cancelámos o Aviut entre nós.
Precisamente neste estado, no estado em que permanecemos distantes, construímos a ligação, a ponte entre nós. E então, em vez de anular o ego, conectamo-nos acima dele, e ampliamos a intensidade da nossa percepção.
Quando falamos sobre isto, as pessoas pensam que nós estamos a falar sobre sentir o outro como a nós mesmos, à semelhança de um Cabalista no nosso mundo, mas isso não é verdade. Tal abordagem cancela a diferença entre as pessoas, e isso não é bom, porque tudo o que você adquire é o pequeno ego do outro.
Ao passo que, querendo entre nós conectar acima do ego que irrompe em nós, obtemos Aviut espiritual, revelamos a Klipa (casca) entre nós, e depois acima dela revelamos o mundo espiritual. Não há outra maneira. Por outras palavras, quanto mais você expandir os seus vasos de recepção, mais egoísta você se torna, adquire maior Aviut e sente mais o quanto você odeia, e o quanto é repelido por e distante dos outros. E você não apague esta lacuna, mas construa acima dela, novas conexões. O problema é que leva ao grupo muito tempo para perceber que estas duas coisas opostas necessitam de viver em conjunto e construir a linha do meio que as conecta entre elas.
Por isso, é dito que o mundo espiritual está acima de nós, acima do nosso ego, no lugar onde nós podemos construir as ligações entre nós, sem cancelar o ego que está na verdade a queimar-nos por dentro.
Temos de ouvir sobre isto mais e mais e fazer esforços para implementá-lo. O problema no grupo é que queremos cancelar entre nós tudo o que nos dificulta. Mas anulação real trabalha em conjunto com o que se revela entre nós. E esta é toda a diferença entre o método da Cabala e os outros métodos e religiões. Esta esquerda, este ego prestes a rebentar, o mal numa pessoa permanece, e graças a Deus que ele existe. Como os Cabalistas escreveram: “Eu criei a má inclinação, e eu criei para isso a Torá como um tempero", significando que todas as correcções são apenas como um tempero para a má inclinação, para que nós as usemos correctamente.
Portanto, não devemos ter vergonha de toda a atrocidade que existe em cada um de nós, não há necessidade de esconder isso, ou de ser uma alma gentil. Pelo contrário, este sou eu, e estas são as qualidades com que nasci. Sim, eu sou repugnante, eu sei. Mas, acima disso, com toda a atrocidade que existe na ligação entre mim e os outros, eu construo a minha ligação com eles. Não é simples, porque você deve agarrar-se a duas coisas opostas, amor e ódio ao mesmo tempo. Como? Precisamente quando tentamos fazê-lo, neste único método especial, e percebemos que não conseguimos.
Podemos ficar no nosso ego até ao fim, ou cancelá-lo e fazer de nós mesmos uns bons garotos, mas somos incapazes de estar em ambos simultaneamente. E, nessa altura, exigimos a Força Superior que irá trazer a paz entre nós, a realização que permitirá tanto a esquerda quanto a direita de existirem juntas. Você precisa de um Criador aqui, a terceira força, e então você descobre que Ele existe, precisamente, no ponto entre o ódio e o amor.
E se Ele existe, então Ele amarra os laços entre o ódio e o amor, como está escrito: "O homem e a mulher, e Shechina (Divindade) entre eles”. Caso contrário, a força do dar e a força da recepção não podem existir juntas. Apenas a Força Superior faz “a paz nos Seus céus” e a “paz entre nós”, a “realização” entre as duas linhas.
A sabedoria da Cabala é o único método que nos leva à necessidade de ajuda de Cima, porque você parado, sem saber o que fazer. E quando descobrimos coisas como estas no grupo, nós queremos escapar, ou quebrar tudo de ódio ou anular o ego a fim de alcançar o amor.
Mas este é exactamente o ponto em que temos de exigir que a Força Superior nos corrija e nos traga a plenitude. Todas as diferentes situações são deliberadamente organizadas para nós de Cima, para que possamos submeter uma oração e a Luz virá, correcta, e será revelada. E isso pode acontecer aqui e agora. Só temos de ver a situação correctamente e exigir a correcção, sem fugir e permitir que uma linha neutralize a outra. Não é simples, mas está de facto a acontecer aqui e agora, e não nalgum lugar distante.
A Página Diária - 04-12-09
A Página Diária é uma colecção de excertos retirados da lição diária de Cabala com Dr. Michael Laitman e o Bnei Baruch