Por Que Tudo Se Trata Literalmente de Dar e Receber
Como a sabedoria da Cabala explica, na antiga Mesopotamia, depois de estudar o mundo à sua volta, Abraão descobriu que a realidade consiste de dois desejos. Um desejo é doar e o outro é receber. Ele descobriu que tudo o que existiu, o que existe agora, e o que vai existir é um resultado da interação entre essas duas forças. Quando os desejos trabalham em harmonia, a vida segue seu percurso pacificamente. Quando eles colidem, no entanto, temos de lidar com as calamidades, catástrofes e crises de grande magnitude.
Através dessas descobertas, Abraão entendeu como o universo e a vida tinham iniciado, e como evoluíram. Nosso universo nasceu aproximadamente há 14 bilhões de anos atrás, quando uma enorme e nunca dantes vista e repetida expansão de energia explodiu a partir de um minúsculo ponto. Os astrônomos a chamam de “o Big Bang.” Assim como um sêmen e um óvulo se juntam para formar um embrião no momento da concepção, o universo foi “concebido” quando o desejo de doar e o desejo de receber se uniram pela primeira vez no Big Bang. Por esse motivo, tudo que existe em nosso universo é uma manifestação da união das duas forças.
Assim como uma célula de um embrião começa a se dividir e a criar a carne do recém nascido imediatamente após a concepção, o desejo de doar e o desejo de receber começaram a formar a matéria do nosso universo imediatamente após o Big Bang. Em seguida, através de um processo que durou bilhões de anos, e que em certa medida, dura ate hoje, gases se expandiram e contrairam alternativamente, galáxias foram criadas, e estrelas se formaram dentro delas. Cada expansão de gases era uma conseqüência de um desejo de doar, que se expande e cria, e cada contração era o resultado do desejo de receber, que absorve e contrai.
A humanidade, como o universo, é um sistema perfeito compreendido por uma miríade de elementos que interagem entre eles. Assim como bilhões de galáxias compõe o universo, bilhões de pessoas juntas compõem a humanidade. E assim como existem estrelas dentro de cada galáxia, há pessoas no seio de nações e estados. E os órgãos, tecidos e células dentro do corpo de cada pessoa são como os planetas, cometas e asteróides orbitando seus sóis.
A expansão e a contração formam as intermináveis idas e vindas da vida, movidas em um momento pela vontade de doar, e no próximo momento pelo desejo de receber. Quer sejam galáxias, sois e planetas fundindo-se para formar o nosso universo, ou células, pele, e órgãos humanos combinados para formar um ser humano, esta articulação, de desejos está na raiz da criação.
Assim como as estrelas, o Planeta Terra desenvolveu-se pela expansão e contração através da interação dos desejos. Quando a Terra foi formada, sua superfície refletia o fluxo de expansão e o refluxo de contração. A cada vez que o desejo de doar prevalecia, o interior da Terra explodia transformando-se em rios de lava. E cada vez que a força do recebimento prevalecia a lava se esfriava e formava novas faixas de terra. Finalmente, uma crosta bastante forte se formou sobre a Terra para permitir o surgimento da vida tal qual a conhecemos.
Se procurarmos bastante, encontraremos as mesmas duas forças – dar e receber – dentro de cada ser criado, tecendo suas magníficas vestes da vida. No processo de tecelagem, o desejo de doar criou primeiro a matéria, como no Big Bang ou como no recém nascido, e o desejo de receber formou a matéria, como nas estrelas e nas diferentes células dos organismos.
Você Sabia Que a Humanidade É o Resultado de Biliões de Anos de Cooperação?
A história não acaba com a criação do universo. Quando um bebê nasce, ele não pode controlar as suas mãos ou pernas, que parecem se mexer erraticamente. No entanto, há uma enorme importância nestes aparentes movimentos erráticos: depois de muitas repetições, o bebê gradualmente aprende com que movimentos se obtém resultados e com quais não. A não ser que o bebê tente, ele não vai aprender como se virar, engatinhar, e finalmente andar. Em um bebê, a força da vida (o desejo de doar) cria movimento. Mas é o desejo de receber é que dá, a esta força, direção e determina quais expressões do desejo de doar (movimentos) deveriam ficar ou não.
O mesmo princípio pode ser aplicado à primeira infância da Terra. Durante o esfriamento da Terra, partículas movidas pelo desejo de doar movimentavam-se ao acaso. O desejo de receber causou a contração destas partículas e formou aglomerados, e apenas os mais estáveis destes grupos sobreviveram, formando átomos.
Os átomos, também, moviam-se ao acaso uma vez que o desejo de doar dentro deles os lançavam erraticamente, e o desejo de receber gradualmente formava grupos de átomos mais sustentáveis. Estas foram as primeiras moléculas. A partir dai o caminho para a primeira criatura viva foi pavimentado.
Durante a criação, esses desejos colaboraram para criar criaturas cada vez mais complexas. As criaturas unicelulares vieram primeiro. Então, essas criaturas aprenderam a colaborar para poder aumentar as suas possibilidades de sobrevivência. Algumas células distinguiam-se na respiração e ficaram encarregadas do fornecimento de oxigênio para as demais células. Outras células aprenderam a digerir eficazmente e se tornaram responsáveis pelo fornecimento de nutrientes para as demais células na “colônia.” Algumas células aprenderam a pensar para as demais células e se tornaram o cérebro da “colônia”.
Portanto, criaturas multicelulares foram formadas dentro das quais cada célula tinha uma única função e responsabilidade, e dependia das outras das células para a sua sobrevivência. Esta qualidade é o que caracteriza as criaturas complexas tais como plantas, animais e, principalmente, o homem.
O Homem Está Acima da Natureza?
Camada por camada, a vida evoluiu pacificamente em seu curso. Depois vieram os seres humanos. Os primeiros humanos pareciam-se como os macacos. Eles comiam o que encontravam na terra ou nas árvores, e caçavam o que podiam. Eles colaboravam uns com os outros, mas agiam puramente por instinto.
Mas os seres humanos não eram como os outros animais. Eles descobriram que para aumentar as suas possibilidades de sobrevivência, eles deviam se concentrar em desenvolver o seu intelecto em vez de seus corpos. Como resultado, aprenderam como fazer armas para caça, em vez de utilizar suas mãos ou pedras. Eles também aprenderam a utilizar vasos para juntar e armazenar alimentos. Ao longo do tempo, os seres humanos melhoraram a utilização da sua inteligência, o que aumentou as suas possibilidades de sobrevivência ainda mais. Assim, aos poucos, a raça humana se tornou governadora da Terra.
A capacidade de utilizar as ferramentas para aumentar a produção alimentar e construir melhores abrigos nos ofereceu uma possibilidade única, não disponível à outras criaturas: pensávamos poder modificar o nosso meio ambiente para adaptá-lo as nossas necessidades, em vez de nos mudarmos para nos ajustarmos melhor aos ditames da natureza. Este foi o elemento chave na evolução da humanidade desde então.
A constatação de que poderíamos mudar nosso entorno para satisfazer os nossos desejos mudou o futuro da humanidade para sempre. Não dependíamos mais da natureza, mas de nossos próprios recursos. Esse ponto foi o nascimento daquilo que hoje dizem ser “civilização”.
O alvorecer da civilização, cerca de dez mil anos atrás, foi lindo. Melhoramos as nossas ferramentas de caça, desenvolvemos a agricultura, inventamos a roda, e vimos a vida passando de boa para melhor. O único problema na nossa capacidade de constantemente melhorar as nossas vidas era que essa habilidade nos fez sentir mais poderosos do que realmente somos, e começamos a nos sentir superiores a Natureza, o que provou ser a raiz de todos os males.
Como Dois Desejos Dentro de uma Pessoa são a Chave para Desbloquear Prazer Crescente
Os seres humanos são uma espécie especial: desde que percebemos que poderíamos mudar os nossos arredores para o nosso beneficio, desenvolvemos maneiras cada vez mais sofisticadas de fazê-lo. Aprendemos que podemos usar a nossa inteligência, em vez de nossa força física para aumentar nosso prazer.
No entanto, para aumentá-la de modo eficaz, precisamos saber que partes de natureza podemos mudar, quando podemos mudá-las, e como. Por exemplo, a agricultura é uma mudança de natureza porque em vez de colher aveia selvagem, por exemplo, podemos domesticá-la, cultivá-la num campo, produzir muito mais e colhe-la mais facilmente. Mas para evitar danos ao meio ambiente, os agricultores devem levar em consideração inúmeras informações, para ter certeza de que não prejudicarem o equilíbrio global .
E para podermos manter esse equilíbrio, precisamos ter consciência de todos os elementos envolvidos na criação do meio ambiente, e em primeiro lugar, o desejo de doar e o desejo de receber, e como eles interagem. Caso contrário, é como se estivéssemos tentando construir uma casa sem saber como fazer uma forte e sólida fundação ou planejar o número de quartos sem saber quantas pessoas vão viver neles.
A interação entre os dois desejos nos ilude porque é a própria base da nossa composição, e por isso reside em um nível mais profundo do que a nossa consciência. Mas uma vez que entendemos como esses desejos interagem entre si para criar vida, podemos colocar esta informação em prática e descobrir como nos beneficiar dela.
Ao mesmo tempo, se construímos nossas vidas levando em conta os dois desejos, nosso bom senso será constantemente desafiado, nos encontraremos considerando ações e atitudes que não fazem sentido para o nosso desejo de receber, que quer apenas receber. Por exemplo, de que serviria eu dar algo para alguém que eu não conheço, de quem não me importo, e que jamais me retribuirá o favor? Não faz nenhum sentido para o meu desejo de receber.
Se você sugerir que ao agir desse modo conheceria a outra metade da realidade, o desejo de doar, e que eu entenderia como a força que cria a vida funciona, eu provavelmente diria que o senhor necessita de um terapeuta, antes de reconhecer que o que me diz tem valor.
Por Que A Vida É Difícil Sem o Desejo de Dar
Para compreender porque a ignorância sobre a vontade de dar é tão prejudicial, podemos pensar na relação entre o desejo de doar e o desejo de receber como a relação entre uma mãe e seu filho. Em uma relação saudável, o bebê conhece a sua mãe e sabe a quem recorrer quando está com fome, frio, ou cansado. Mas, e se o bebê não tem mãe? A quem ele se voltaria para satisfazer suas necessidades? Quem o alimentaria, vestiria, manteria aquecido e amaria? Ele teria que tomar conta de si mesmo. Quais seriam as chances de sobrevivência para esse pobre bêbê?
Desde o dia fatídico quando Nimrod expulsou Abraão de Babel há 4.000 anos atrás, a humanidade tem estado como o bebê, tentando levar a vida da melhor maneira que pode. Ficamos confusos, mas nos separamos do desejo de doar, a força da vida que nos alimenta e ao resto do universo.
Como uma criança órfã de mãe, temos sido privados de orientação, tentando aprender a sobreviver por tentativas e erros. Nos nossos esforços para encontrar uma forma sustentável de vida, experimentamos viver em clãs, escravidão, em democracia grega, feudalismo, comunismo, capitalismo, democracia moderna, fascismo, e até nazismo. Temos procurado consolação para os nossos receios do desconhecido na religião, no misticismo, filosofia, ciências, tecnologia, arte, e, na realidade, em todas as áreas de ideologias e compromisso humanos. Todas essas ideologias e buscas nos prometiam uma vida de felicidade e nenhuma delas cumpriu o prometido.
Sem estarmos conscientes do desejo de doar e da necessidade de equilibrar- nos com ele, tal como todos os outros elementos na natureza, temos atuado exclusivamente em o nosso desejo de receber. Assim criamos sociedades deformadas, desenfreadas em explorações e tiranias.
É verdade que a humanidade alcançou grandes realizações, tais como a medicina moderna e a produção abundante de alimentos e energia. Mas quanto mais progredimos, pior uso de nossas conquistas fazemos, aumentando a diferença entre nós e a crescente injustiça social .
Não é culpa de ninguém que as sociedades humanas estejam deformadas e intrinsecamente injustas. Sem conhecer o desejo de doar, ficamos apenas com uma opção na vida: receber aquilo que podemos sempre que possível. Por isso, aqueles que estão sendo explorados hoje, serão exploradores amanhã se chegarem ao poder, porque quando trabalhamos com apenas o desejo de receber, então tudo aquilo que queremos é receber.
“Desde O Big Bang Até Agora: Aquilo Que A Humanidade Mais Necessita Hoje" é baseado no livro, Garanta Sua Saída da Crise por Dr. Michael Laitman.